19.11.09

I de Isto ou aquilo

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Que nunca estamos satisfeitos não é novidade para ninguém.

Se não é porque estamos cansados e gostaríamos de ficar o dia inteiro de "papo para o ar" sem fazer nada, não fosse o termos de levantar cedo para ir trabalhar, é porque estamos desempregados e cansados de ficar o dia todo sem fazer nada além de enviar currículos e, ao que parece, em vão.

Se não é porque está sol, um calor que não se aguenta, é porque está chuva e temos de andar de guarda-chuva na mão, a tentar fugir dos pingos, para não ficarmos ensopados da cabeça aos pés.

Se não é porque me apetece ficar aqui, é porque decido ir para ali e depois penso se não teria sido melhor ter ficado onde estava.

Se não é porque tenho de guardar as moedas para o Metro, é porque me cheira a pipocas quentes e gasto o dinheiro (e nem salgadas são) e esqueço que preciso delas.

Se não desce é porque sobe, se não dá é porque tira.

Se não é por isto, é por aquilo e vivo assim, com isto e mais aquilo, sem saber se isto é melhor que aquilo.

17.11.09

P de Poetas Intemporais: António Aleixo

O poeta que ri das circunstâncias em que vive e até da sua própria aparência:
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Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

O poeta que brinca até com a sua profissão de "cauteleiro":
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De vender a sorte grande,
confesso, não tenho pena;
que a roda ande ou desande
eu tenho sempre a pequena.

O poeta que se insurge contra as injustiças (convém lembrar que estamos em plena ditadura salazarista e que impera a Censura):
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És feliz, vives na alta
e eu de ratos como a cobra.
Porquê? Porque tens de sobra
o pão que a tantos faz falta.


Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?


À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.


Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério.

Insiste:
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Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.

Conclui:
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Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.

E continua a dar-nos grandes lições:
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P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão.

Reforça:
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Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do Mundo,
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.

Ri e faz-nos rir:
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Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

(adaptado do Vidas Lusófonas)
Homenagem para assinalar os sessenta anos sobre a morte de António Aleixo – o mítico poeta popular algarvio.

16.11.09

S de Sofrer por antecipação

Pedem-nos para fazermos determinada tarefa e, de imediato começamos a pensar...
Começamos a pensar de onde vamos retirar a informação, como vamos tratar a informação, no necessário e no dispensável e começamos e entrar em pânico com medo de não estar à altura do desafio.

Nada de mais natural, dirão muitos!
Mas o que fazer quando o pânico toma conta de nós?
Passamos o tempo inquietos, absorvidos pela indefinição (enquanto não definimos as linhas do nosso projecto) e, consciente ou inconscientemente, antevemos o pior – os obstáculos, os problemas, os impossíveis, que ainda não ocorreram e nem sabemos se vão ocorrer, mas já estamos a contar com eles.
O nosso corpo acompanha o nosso pensamento e também ele entra num estado de alerta. Entra num estado de ansiedade que só nos provoca mais mal-estar, agravando a situação. Por fim, o MEDO de falhar apodera-se de nós!
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Em si, as preocupações são uma tentativa de controlo sobre determinada circunstância que ainda não surgiu. Não é que não tenhamos motivos. Mas de que adianta preocuparmo-nos diante de algo que ainda não existe, a não ser na nossa mente?
Aprendemos que devemos prever todas as situações, a prevenir-nos para resolver. Mas pensar sempre no pior é muito cansativo. Nem tudo é uma tragédia em três actos!
Temos de pensar mais amiúde que a vida é no PRESENTE e principalmente, permitir-nos viver a três tempos com o que esta nos brinda EM CADA DIA.
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Ousamos arriscar e acabamos por avançar rumo ao desconhecido, assim o dita o dever e acabamos SEMPRE por surpreender-nos agradavelmente.

Não é que conseguimos dobrar o "Cabo da Boa Esperança" e os alegados domínios do "Gigante Adamastor"?
Depressa esquecemos o bicho-de-sete-cabeças quando na realidade estávamos perante um bicho apenas – a nossa cabeça!
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INFELIZMENTE:
"Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a escada, degrau a degrau."
Mark Twain

6.11.09

C de Chuva: diz quem sabe

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"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é."
Alberto Caeiro

3.11.09

Letras e Expressões: 1

"Partir Pedra"

Não desistas ainda...
Tenho fé de que nem tudo está perdido!

C de Citação: 4

"O Vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha.
Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros."
Cecília Meireles

2.11.09

M de Mudança: um novo começo!

Depois de uma prolongada e sentida ausência, estou de volta!
As coisas levaram o seu tempo a ficar definidas. O Tempo foi passando, sem deixar o seu rasto habitual, mas trazendo aquilo que chamamos uma lufada de ar fresco.
Recordo apenas as coisas boas que ficaram para trás: a segurança de uma rotina, o sorriso de uma cara conhecida e sempre bem-disposta, as conversas de sexta-feira à tarde e a muleta da amizade desinteressada, difícil de encontrar em qualquer local de trabalho.
Não é que esteja perdida para sempre! Está apenas a um andar de distância e ainda assim sinto que algo mudou. Perdeu-se a convivência diária e com ela um elo precioso.

O meu novo lugar ficou finalmente definido na nova engrenagem. Resta esperar que a mão ponha a máquina de novo a funcionar.
Os dados foram baralhados, lançados, aguarda-se o resultado.

Quanto a mim, mais um passo de um longo caminho. E até onde a vista desarmada o permite, só consigo ver um enorme ponto de interrogação.
O que vai acontecer? Não sei, mas irei descobrir muito em breve...