28.9.09

P de Palavras: cada um junta as suas

Dependendo da inspiração, cada um olha para as palavras e descobre-lhes um sentido seu. Difere do sentido que o autor das mesmas lhes deu ou não, difere do sentido que outro leitor lhes deu, com certeza, mas não deixam de ser palavras, palavras importantes porque mudaram alguma coisa para quem as leu.

Há palavras gastas, há palavras a quem ninguém dá atenção, há palavras que nos envolvem, há palavras que nos ferem de morte, outras há que nos arrancam gargalhadas, outras não, há palavras cunhadas, palavras resumidas, emprestadas, há simplesmente palavras...

Todos os dias, inevitavelmente, julgamos as palavras dos outros, dando ou retirando-lhes valor. Cada um guarda à sua maneira a essência de cada uma delas.
Não procura impor as suas. E se não tenta fazê-lo, dispensa por isso a insignificância a que outros parecem querer reduzir as suas...
Ninguém é melhor que ninguém no que toca a juntar palavras!

Há espaço que chegue para todos, mesmo para aqueles a quem falta as palavras.
Aparecem palavras de todos os lugares, ávidas por preencher o branco da página, tenha ela o formato que tiver. Só querem ser manuseadas, acarinhadas, lidas ou repetidas vezes sem conta.
E se AQUI, fizerem eco abalroando quem nada procurava, tanto melhor. O vazio fica preenchido!

2 comentários:

  1. "De todos os animais da criação, o homem é o único que bebe sem ter sede, come sem ter fome e fala sem ter nada que dizer."

    Porque só o Homem não compreende o respirar de um segredo dito no silêncio, quando as Almas se calam, o Amor sentido através dos diálogos através de um olhar e tem necessidade de verbalizar sempre tudo, racionalizar e traduzir para não estar calado.

    Quantas vezes é que no silêncio ouvimos o nosso Anjo da Guarda "soprar" a solução, rezamos a Deus, gritamos e choramos palavras surdas de ódio, de solidão, em momentos de arrependimento...
    No entanto, em nada a boca se abriu para proferir o que quer que fosse...

    São essas palavras que nos enchem, que dizem quem somos, como nos sentimos, o que precisamos...
    Palavras que "ninguém" ouve...

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  2. Estas palavras desenhadas por ti trouxeram-me à memória este poema de Eugénio de Andrade:

    AS PALAVRAS

    São como um cristal,
    as palavras.
    Algumas, um punhal,
    um incêndio.
    Outras,
    orvalho apenas.

    Secretas vêm, cheias de memória.
    Inseguras navegam;
    barcos ou beijos,
    as águas estremecem.

    Desamparadas, inocentes,
    leves.
    Tecidas são de luz
    e são a noite.
    E mesmo pálidas
    verdes paraísos lembram ainda.

    Quem as escuta? Quem
    as recolhe, assim,
    cruéis, desfeitas,
    nas suas conchas puras?

    ;)

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