17.12.09

I de Imagens: sentir as Letras

Tantas quantas as letras do alfabeto, irei publicar a dia 15 de cada mês uma imagem que resume as minhas resoluções de ano novo.

Tudo porque no dia 15 de Janeiro chega ao fim mais uma etapa de um logo caminho. Simbolicamente, é assumido um novo compromisso com a vida.

16.12.09

F de Festa de Natal: a que viu um dia diferente

Ao que parece este ano a organização esmerou-se.
Terá sido por nossa causa?
O certo é que abriram os cordões à bolsa e em vez do simples e tradicional almoço de convívio, contrataram figurinos, bailarinos disfarçados de empregados para delícia da ala feminina e modelos com 1.80m + saltos enfiadas num vestido preto justíssimo de tirar o fôlego à ala masculina.
E isto só para começar e o pessoal ir entrando no espírito dos anos 70 já que a adesão a nível da vestimenta foi pouca ou nenhuma. Ajudou a organização ter distribuído lenços, perucas e fitas com lantejoulas.
Depois do espectáculo de ritmo e som, encaminharam-nos para o salão preparado para receber cerca de 2200 pessoas. As mesas e todo o espaço estavam incrivelmente bem decorados.
Depois de estarem todos devidamente sentados, sobem ao palco 2 meninas. Assim que aparecem mais de perto num dos vários ecrãs espalhados pela sala percebemos que já vimos aquelas caras em algum lado e eis que nos lembramos de onde.
Pois claro, do pequeno ecrã, do programa "Fama Show" das tardes de Domingo na SIC.
O queixo caído depressa voltou ao lugar depois de ouvirmos as deixas especialmente preparadas mas sem grande imaginação.


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Salvas não pelo sino mas por esta dupla fantástica sobejamente conhecida de vários palcos. Fiquei com pele de galinha ao ouvi-los cantar.
Todos acompanharam ambos que não só com os olhos mas também com a voz. Há músicas que não se esquecem e, improvisando, fomos recordando a letra de muitas que fizeram parte da nossa adolescência.
Mas há músicas que são intemporais e os ABBA são um exemplo disso mesmo.
Não, não contrataram os ABBA (se fosse possível, talvez o fizessem!) para animar o nosso almoço de Natal, mas quase!
Quem subiu ao palco foi uma banda britânica fiel ao imaginário do grupo sueco, ao seu guarda-roupa, coreografias e, claro, à música.













Recordámos com os ABBA GOLD temas como "Waterloo", "Mamma mia", "Super trouper", "Gimme!_Gimme!_Gimme!_(A_Man_After_Midnight)" , "Take a Chance on Me" entre outros.
O pezinho de dança não faltou e abanando as franjas do meu vestido posso dizer que dancei até as pernas me doerem! Pena foi realmente tratar-se de um almoço porque se de um jantar se tratasse teria dançado pela noite dentro até de madrugada, à semelhança de anos anteriores!

11.12.09

F de Festa de Natal: a que já viu melhores dias


Não vai haver JANTAR mas temos ALMOÇO de Natal.
Definitivamente, este ano não vai ser a mesma coisa. Em 2007, a festa foi aqui e em 2008 aqui.
EM 2009, um simples almoço de convívio onde ninguém se conhece.
Desde Julho que fazemos parte de uma GRANDE família e aguardamos desde então para nos serem apresentados os membros restantes. Tal qual miúdos que acabaram de ser adoptados e que vão ver a sua nova família pela primeira vez. O patriarca vai discursar (claro!) e apresentar os que chegaram ao clã agora. Conta-se com um bom repasto (que tal se come em Santarém?) e, para descontrair, música ambiente dos anos 70/80.

Assim, vestida a rigor, amanhã vou estar aqui.

10.12.09

C de Citação: 5

"As pessoas mais felizes são aquelas que parecem não ter nenhum motivo particular para serem felizes, só que os são."
William Inge

9.12.09

N de Natal: a quanto obrigas















Gostava que o Natal fosse quando o Homem quer e não dia de calendário celebrado religiosamente a dia 25 de Dezembro de cada ano.
O espírito natalício que contagia a maior parte das pessoas nesta quadra deixou de oferecer aquele calor característico e transformou-se numa pedra que trago no sapato só de pensar nas prendas que tenho de dar porque é Natal e assim a tradição o obriga.
Não reajo bem à pressão...
Pensar na confusão que se torna colossal na proporção inversa aos dias que faltam para o grande dia...pressinto que não vai ser fácil lidar com a fúria consumista de todos aqueles que parecem ter o dito espírito dentro deles e que passam de loja em loja à procura do melhor néctar convertendo-o na prenda perfeita. Parecem todos transformados em verdadeiras abelhinhas, só lhes falta conseguir a proeza de visitar dez flores/lojas por minuto. Todas as lojas são visitadas, até as mais improváveis, não vá estar lá o dito presente perfeito.
> Inventar desculpas e adiar a compra também não ajuda, não fosse o bom português amigo de deixar tudo para a última hora, o que pode ser um verdadeiro problema se a dia 24 ainda não se faz ideia do que oferecer a esta ou aquela pessoa.
> E ainda temos a história da prenda para o amigo secreto que nos calhou na rifa, aquele presente que compramos mais por obrigação do que por gosto, que de amigo não tem nada e esperemos que de secreto tenha muito. Calha-nos sempre alguém com quem não vamos à bola e a quem não fazemos a mínima ideia o que oferecer. Em último caso, chocolates!
Mas até os chocolateiros se uniram para nos dificultar a vida: ele há chocolates com recheio, de leite, preto, com amêndoas, com licor e sei lá que mais. O que parecia coisa simples torna-se um drama quando tentamos descobrir aqueles de que a pessoa gosta. Arriscar e comprar no escuro pode devolver-nos uma cara feia e algum comentário menos próprio!
> Jantar de Natal - Este ano muita coisa mudou e vai quebrar-se a tradição – não há o típico jantar de Natal com chefias e colegas. Não há sorrisos amarelos nem anedotas sem piada ou promessas quase eleitorais para 2010. Quem esperava pela festa de Natal para cair no goto do chefe viu os seus planos furados. Terá de trabalhar tanto ou mais para o ano que vem. O discurso sobejamente conhecido por todos também mudou, porque a família mudou. Já não vamos ouvir (mais uma vez): “podem vir as tempestades que temos marinheiros audazes!” mas uma mensagem de boas vindas e algo mais. A ver vamos...
> E por fim uma referência a todos aqueles que fazem por tornar tudo perfeito.
Aqueles que asseguram que a porta da tal loja esteja aberta, porque precisamos comprar algo que falhou e não queremos que falte nada em dia de consoada (falta tanta coisa em tantas mesas).
Não deveriam também eles estar à mesa celebrando o dito Natal?

19.11.09

I de Isto ou aquilo

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Que nunca estamos satisfeitos não é novidade para ninguém.

Se não é porque estamos cansados e gostaríamos de ficar o dia inteiro de "papo para o ar" sem fazer nada, não fosse o termos de levantar cedo para ir trabalhar, é porque estamos desempregados e cansados de ficar o dia todo sem fazer nada além de enviar currículos e, ao que parece, em vão.

Se não é porque está sol, um calor que não se aguenta, é porque está chuva e temos de andar de guarda-chuva na mão, a tentar fugir dos pingos, para não ficarmos ensopados da cabeça aos pés.

Se não é porque me apetece ficar aqui, é porque decido ir para ali e depois penso se não teria sido melhor ter ficado onde estava.

Se não é porque tenho de guardar as moedas para o Metro, é porque me cheira a pipocas quentes e gasto o dinheiro (e nem salgadas são) e esqueço que preciso delas.

Se não desce é porque sobe, se não dá é porque tira.

Se não é por isto, é por aquilo e vivo assim, com isto e mais aquilo, sem saber se isto é melhor que aquilo.

17.11.09

P de Poetas Intemporais: António Aleixo

O poeta que ri das circunstâncias em que vive e até da sua própria aparência:
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Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

O poeta que brinca até com a sua profissão de "cauteleiro":
---
De vender a sorte grande,
confesso, não tenho pena;
que a roda ande ou desande
eu tenho sempre a pequena.

O poeta que se insurge contra as injustiças (convém lembrar que estamos em plena ditadura salazarista e que impera a Censura):
---
És feliz, vives na alta
e eu de ratos como a cobra.
Porquê? Porque tens de sobra
o pão que a tantos faz falta.


Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?


À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.


Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério.

Insiste:
---
Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.

Conclui:
---
Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.

E continua a dar-nos grandes lições:
---
P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão.

Reforça:
---
Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do Mundo,
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.

Ri e faz-nos rir:
---
Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

(adaptado do Vidas Lusófonas)
Homenagem para assinalar os sessenta anos sobre a morte de António Aleixo – o mítico poeta popular algarvio.

16.11.09

S de Sofrer por antecipação

Pedem-nos para fazermos determinada tarefa e, de imediato começamos a pensar...
Começamos a pensar de onde vamos retirar a informação, como vamos tratar a informação, no necessário e no dispensável e começamos e entrar em pânico com medo de não estar à altura do desafio.

Nada de mais natural, dirão muitos!
Mas o que fazer quando o pânico toma conta de nós?
Passamos o tempo inquietos, absorvidos pela indefinição (enquanto não definimos as linhas do nosso projecto) e, consciente ou inconscientemente, antevemos o pior – os obstáculos, os problemas, os impossíveis, que ainda não ocorreram e nem sabemos se vão ocorrer, mas já estamos a contar com eles.
O nosso corpo acompanha o nosso pensamento e também ele entra num estado de alerta. Entra num estado de ansiedade que só nos provoca mais mal-estar, agravando a situação. Por fim, o MEDO de falhar apodera-se de nós!
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Em si, as preocupações são uma tentativa de controlo sobre determinada circunstância que ainda não surgiu. Não é que não tenhamos motivos. Mas de que adianta preocuparmo-nos diante de algo que ainda não existe, a não ser na nossa mente?
Aprendemos que devemos prever todas as situações, a prevenir-nos para resolver. Mas pensar sempre no pior é muito cansativo. Nem tudo é uma tragédia em três actos!
Temos de pensar mais amiúde que a vida é no PRESENTE e principalmente, permitir-nos viver a três tempos com o que esta nos brinda EM CADA DIA.
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Ousamos arriscar e acabamos por avançar rumo ao desconhecido, assim o dita o dever e acabamos SEMPRE por surpreender-nos agradavelmente.

Não é que conseguimos dobrar o "Cabo da Boa Esperança" e os alegados domínios do "Gigante Adamastor"?
Depressa esquecemos o bicho-de-sete-cabeças quando na realidade estávamos perante um bicho apenas – a nossa cabeça!
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INFELIZMENTE:
"Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a escada, degrau a degrau."
Mark Twain

6.11.09

C de Chuva: diz quem sabe

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"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é."
Alberto Caeiro

3.11.09

Letras e Expressões: 1

"Partir Pedra"

Não desistas ainda...
Tenho fé de que nem tudo está perdido!

C de Citação: 4

"O Vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha.
Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros."
Cecília Meireles

2.11.09

M de Mudança: um novo começo!

Depois de uma prolongada e sentida ausência, estou de volta!
As coisas levaram o seu tempo a ficar definidas. O Tempo foi passando, sem deixar o seu rasto habitual, mas trazendo aquilo que chamamos uma lufada de ar fresco.
Recordo apenas as coisas boas que ficaram para trás: a segurança de uma rotina, o sorriso de uma cara conhecida e sempre bem-disposta, as conversas de sexta-feira à tarde e a muleta da amizade desinteressada, difícil de encontrar em qualquer local de trabalho.
Não é que esteja perdida para sempre! Está apenas a um andar de distância e ainda assim sinto que algo mudou. Perdeu-se a convivência diária e com ela um elo precioso.

O meu novo lugar ficou finalmente definido na nova engrenagem. Resta esperar que a mão ponha a máquina de novo a funcionar.
Os dados foram baralhados, lançados, aguarda-se o resultado.

Quanto a mim, mais um passo de um longo caminho. E até onde a vista desarmada o permite, só consigo ver um enorme ponto de interrogação.
O que vai acontecer? Não sei, mas irei descobrir muito em breve...

31.10.09

Happy Halloween!



















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“Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, elas existem.”
Miguel de Cervantes

7.10.09

C de Cinema: matiné de feriado

Parece praga. Sempre que um fim-de-semana prolongado se aproxima fico doente. Este não fugiu à regra. Comecei a sentir os primeiros sintomas ainda a tarde de sexta-feira ia no início, e não quis crer que fosse gripe. Assim que cheguei a casa já não havia nada a fazer. Já não ia lá com as mezinhas do costume, era tarefa para um bendito comprimido.
Passei o Sábado enrolada com os lençóis, lavada em febre que teimava em querer baixar e com uma dor de cabeça lancinante que anulava qualquer tentativa repentina de querer sair da cama.
Mas eis que no Domingo, com o sol a deitar-se, comecei a ver e a sentir sinais de melhoras.
A segunda-feira amanheceu a condizer com o meu estado de espírito – obrigava ao recolhimento. Bastante melhor, decidi mudar-me para a sala, acompanhada de uma manta de franjas bem quente, uma chávena com chá e torradas barradas com manteiga. Seguindo as minhas pegadas veio um gato que não perde este tipo de oportunidade para esticar as patas e aninhar-se junto a mim, tamanha é a satisfação.
Ligo a TV e rezo para que tenham preparado uma programação a pensar em quem fica em casa num feriado e rezo também para que não seja uma programação de fazer perder a paciência ou que insulte a inteligência do mais comum dos mortais. Chega de repetições, comemorações, festivais e afins. Estávamos assim, os dois, preparados para uma matiné de Domingo à tarde em tarde de Segunda-Feira.
Não consegui prestar atenção à caixinha por muito tempo. Não sei se contagiada pela preguiça daquele que estava ao meu lado, se pela qualidade da emissão (não consegui que as minhas preces fosses ouvidas), acabei adormecendo.

Acordei com as façanhas de um pequeno rato - Stuart Little e companhia – e apesar de estar quase no fim sinto que assisti à melhor parte do filme.
Stuart Little despedia-se com pesar da sua nova amiga Marlo, que precisava juntar-se ao bando e voar para Sul para fugir aos rigores do Inverno. Esta sabia-se pequena e frágil para encetar tamanha viagem e, apesar de ser livre para o fazer pela primeira vez, tinha medo. A ideia de deixar o seu pequeno amigo também não ajudava.
Stuart conforta-a dizendo: “TENS O TAMANHO QUE SENTIRES” e tenta ver o lado bom das coisas: Marlo estaria de volta com a Primavera.
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A frase fica no ouvido. O som das palavras perdura num eco surdo. Pensamos que precisamos explicá-las, dissecá-las e juntá-las outra vez dando-lhes outro sentido...mas, por mais que tentemos, nenhum outro consegue fazer-nos sentir o mesmo. Há palavras assim.

29.9.09

P de Poetas Intemporais: José Régio

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio – Cântico Negro

28.9.09

P de Palavras: cada um junta as suas

Dependendo da inspiração, cada um olha para as palavras e descobre-lhes um sentido seu. Difere do sentido que o autor das mesmas lhes deu ou não, difere do sentido que outro leitor lhes deu, com certeza, mas não deixam de ser palavras, palavras importantes porque mudaram alguma coisa para quem as leu.

Há palavras gastas, há palavras a quem ninguém dá atenção, há palavras que nos envolvem, há palavras que nos ferem de morte, outras há que nos arrancam gargalhadas, outras não, há palavras cunhadas, palavras resumidas, emprestadas, há simplesmente palavras...

Todos os dias, inevitavelmente, julgamos as palavras dos outros, dando ou retirando-lhes valor. Cada um guarda à sua maneira a essência de cada uma delas.
Não procura impor as suas. E se não tenta fazê-lo, dispensa por isso a insignificância a que outros parecem querer reduzir as suas...
Ninguém é melhor que ninguém no que toca a juntar palavras!

Há espaço que chegue para todos, mesmo para aqueles a quem falta as palavras.
Aparecem palavras de todos os lugares, ávidas por preencher o branco da página, tenha ela o formato que tiver. Só querem ser manuseadas, acarinhadas, lidas ou repetidas vezes sem conta.
E se AQUI, fizerem eco abalroando quem nada procurava, tanto melhor. O vazio fica preenchido!

24.9.09

H de Humildade: noção do ridículo

Devíamos rir à gargalhada, não dentro de nós, mas a bandeiras despregadas, sempre que se ergue bem à nossa frente um rei ofendido, alguém que se acha desconsiderado pelo mundo em geral, incompreendido em última análise, reclamando direitos que entende ter.
Devíamos rir porque...simplesmente...é ridículo.
Não é Carnaval.
NÃO há como não levar a mal...

23.9.09

I de Imagem: #1













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Foto: Lee Cooper/Reuters
Fiquei fascinada com esta imagem. Não sei dizer ao certo se foi com o brilho infantil no olhar deste pequeno marsupial que espreita, se com a curiosidade caracteristica da idade ou ainda se com o medo disfarçado de ser apanhado a fazê-lo.
Talvez tenha sido a inocência do gesto, a mesma de quem olha de trás da cortina em noite de estreia para ver se está muita gente na plateia.
Com o mesmo nervoso miudinho, este pequeno estranha os sons, o cheiro, a luz difusa que lhe ofusca a vista. Maravilhado pensa no quanto tudo é diferente lá fora e, assustado ou não, é obrigado a voltar para a segurança daquele espaço acanhado até ser tempo.
Não demora muito e já cansado de espreitar, deixa finalmente este mundo de palmo e meio de tamanho para partir à descoberta de tudo aquilo que recorda ter visto.
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Aprendamos com este pequeno marsupial que dá uma espreitadela a partir da bolsa da mãe. O segredo está em olhar para tudo com o mesmo deslumbramento que da primeira vez, como se tudo fosse novo e desconhecido. SEMPRE...!

14.9.09

E de Essência: como vês a tua vida?


Junta-se no interior de um Bistrot um grupo de amigos que debatem a essência da vida.
Para um, a essência da vida não é cómica. É trágica.
A tragédia toca a verdadeira e dolorosa essência da vida. A tragédia confronta.
Enquanto para o outro, as aspirações dos humanos são tão ridículas e irracionais (que só nos apetece rir). A comédia escapa.
Subitamente um terceiro desafia os dois a analisar um episódio banal a que assistiu. Lança o repto e questiona os amigos se aquela história tem material para uma comédia ou para uma tragédia.
Cada um molda a história que ouviu de acordo com a sua visão da vida.
Assistimos de um lado a uma tragédia – a queda de uma mulher apaixonada, enquanto o outro compõe uma deliciosa comédia romântica.
No final, ambos concordam que não há uma essência definitiva que se possa eleger e brindam. Brindam aos bons e maus momentos. Trágicos ou cómicos, a coisa mais importante a fazer é gozarmos a vida enquanto podemos porque só passamos por cá uma vez, e quando acabar, acabou. E quando menos esperamos, pode acabar assim... (com um estalar de dedos).
Woody Allen, 2004 - Melinda e Melinda

11.9.09

C de Citação: #3




Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar
Keller, Helen

10.9.09

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo.
Ele fugiu com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia.
Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente,
mas já que te vou comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO
VER-TE BRILHAR!

9.9.09

D de Desafios: ousar viver

Fernando Pessoa deixou escrito haver um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
Não é fácil deixar para trás a segurança das "roupas usadas". Levámos algum tempo a fazer os ajustes necessários para que ficassem perfeitas e agora que nos pedem para as colocarmos de lado, não podemos deixar de sentir alguma relutância em fazê-lo, muitas vezes apenas por uma questão de comodidade. Os hábitos acumulados moldaram a nossa forma de estar e pensar em mudar isso agora deixa-nos com os nervos em franja.

Os nossos dias foram caindo numa rotina confortável em que não nos era exigido mais do que o necessário para que a máquina não parasse. Trataram de olear bem a engrenagem de forma a manter a vontade cativa e direccionada para os lugares de sempre.
Mas eis que chega o dia em que nos obrigam a ponderar se queremos ser apenas mais uma peça da engrenagem ou se queremos ser a mão que põe a máquina a funcionar.
O caminho é sinuoso.

Ninguém disse que iria ser fácil aprender a pensar e a caminhar de novo.
Mas se não ousarmos fazê-lo, ficará para sempre a dúvida, e se...
Alimentada por um arrependimento crescente acabará por roubar-nos a vontade e atirar-nos para um estado de alheamento em que mais não fazemos do que amaldiçoar o peso que a vida ganhou subitamente.
E antes que seja tarde, é preciso parar para pensar: vamos continuar a culpar tudo e a todos por não termos tido a coragem necessária para arriscar ou vamos fazer algo para mudar isso e começar a escrever a nossa história de uma vez?

7.9.09

C de Citação: #2


«Não existes para impressionar o mundo.
Existes para viver a tua vida de um modo que te faça feliz.»
Richard Bach

> Impressiona-te com a vida e tudo aquilo que conseguires enquanto o fazes.

5.9.09

N de Nostalgia: a minha infância

Descobri entre conversas este cantinho sobre a minha terrinha - Rapoula do Côa.
Ver as imagens deste mês de Agosto, as pessoas, a minha professora da escola primária...foi como voltar uma eternidade atrás! (e não, não estou na foto!)
Recordar as brincadeiras: os bolos de lama com cobertura verde de limos, as casinhas que construíamos, o jogo do prego, dos "países" e das "vacas para a Espanha", foi como que chamar de volta aquela criança adormecida pelo tempo que passou...
Parabéns pela iniciativa!

4.9.09

C de Citação: #1


"O pensamento voa e as palavras vão a pé: eis o drama do escritor"
Julien Green

P de processo criativo: um mundo maravilhoso

Quando não encontramos as PALAVRAS certas para traduzir aquilo que sentimos, seguimos o caminho mais fácil...procuramos e pedimos emprestado as palavras de alguém.
No meu caso e enquanto deambulava por aí (obrigada ao Mudar a Face da Lua) encontrei este pedaço de VERDADE para explicar o que aconteceu aqui:
"Quando você está inspirado por algum grande objetivo, algum projeto extraordinário, todos os seus pensamentos libertam-se de seus grilhões.
Sua mente transcende as limitações, sua consciência expande-se em todas as direções, e você se descobre em um mundo novo, notável, maravilhoso.
Forças, faculdades e talentos adormecidos tornam-se vivos e você descobre que é uma pessoa muito mais fantástica do que alguma vez sonhou."
(Patanjali)

(retirado do Pensamento Positivo)

3.9.09

P de poder: o poder do mal-entendido

Incrível o poder de destruição maciça que pode alcançar um mal-entendido já que, pensando bem, não é mais do que algo que não foi entendido correcta ou perfeitamente, situação facilmente resolvida com uma dúzia de PALAVRAS, não fosse a pré-disposição das pessoas em acender este rastilho e ficar a ver o alcance da explosão.
Não ficam senão cacos, pedaços difíceis de juntar novamente.
Há quem amaldiçoe profundamente o instante em que tais palavras foram pronunciadas ou a falta delas no momento certo e há quem faça por calar as palavras necessárias para colocar tudo no lugar, o orgulho fala por vezes mais alto e há ainda quem aproveite para acrescentar palavas carregadas de ressentimentos antigos.
Nunca até hoje fez tanto sentido a frase "Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida".
Uma palavra irreflectida viu-se subitamente transformada numa flecha, abrindo uma fenda difícil de reparar na fachada de uma convivência já por si difícil.

1.9.09

A de acaso: palavras e letras

a palavra foi dada ao homem para que este pudesse explicar e partilhar os seus pensamentos (Moliére). as letras que junta não são mais do que o meio que utiliza para que estes fiquem gravados na parede do Tempo e nas páginas da Memória, para sempre.
tomando consciência das letras, toma consciência de si, aprende a conhecer-se e a reconhecer e, enquanto o faz, vive plenamente tudo aquilo que o rodeia.

assim, e como que mexendo um turbilhão de sentimentos, a colher da inspiração compõe uma Sopa, uma Sopa de Letras.
aquele que a provar vai dar-se conta de que havia um espaço vazio que precisava ser preenchido, saciado diria, que em surdina, lhe devorava as entranhas, distribuindo reticências e pontos de interrogação.
recomeçando, esse espaço acaba aqui...